sexta-feira, 3 de julho de 2009

Uma pausa ...



Por que as coisas são o que são e não o que não são?


A cidade está movimentada, é noite na capital de São Paulo. Alguns dirigem seus carros pelas avenidas, outros atravessam a faixa de pedestres, alguns dormem, muitos outros conversam. Nessa tamanha alienação de viver cotidianamente igual, ou quase igual, por vezes nos questionamos sobre o significado de tudo e de todos.

Dentro desse questionamento sobre o significado do mundo, está inserida a pergunta feita acima, se o mundo se manifesta da maneira como o enxergamos, poderia ele ser de outra forma? E qual seria essa forma?

São muitas as explicações para tais questionamentos, e suas respostas, quase sempre, provém de doutrinas religiosas e ideologias próprias de cada indivíduo. O homem sempre procurou um meio de encontrar a luz que revelaria toda a sua angústia sobre o intuito de viver, de ser jogado em um planeta com outros seres e outros homens semelhantes a ele e não descobrir o porque.

Enquanto o homem não encontrava a chave para a sua resposta, ele foi descobrindo coisas e inventando outras. No início da história humana, as pessoas caçavam e pouco falavam, com o tempo, os descendentes dessas pessoas começaram a se socializar uma com as outras: armas de caça surgiram, comunidades familiares foram organizadas e animais foram domesticados.

Um pouco mais de tempo se passou, e esse mesmo homem (esse homem descreve o homem coletivo), fez guerras, conquistou territórios, encontrou alguns países perdidos pelo oceano, formou dinastias, impérios e repúblicas.

Dentro desse cenário transformador, as sociedades foram construídas e inserido nesse cenário surgiram as famílias, a religião, a cultura, a escola, a política, a arte e tudo o que nos cerca. Cada pecinha dessa sociedade, chamadas instituições sociais, foram as várias respostas que o ser humano encontrou para dar e manifestar o significado daquelas perguntas iniciais.

Todas essas instituições sociais foram feitas a partir de ideologias pertencentes a um certo grupo de pessoas, nessas ideologias havia o mito, algo criado para sustentar uma sociedade e dar significado a mesma. O mito se concretiza com o rito, que é a realização material do mito.

Nas religiões, por exemplo, o homem criou uma instituição em que são ensinados ou repassados ensinamentos e pensamentos de uma doutrina, uma aceitação sobre algo ou alguma coisa, um conceito criado para ligar pessoas. Inserida nessa instituição há hierarquias e regras, como em qualquer lugar.

Essa forma de o homem organizar o meio em que vive, serviu como meio de garantir uma coesão entre as pessoas e as sociedades. Foram feitas regras que legitimavam tal organização social, punições para quem as não respeitasse, a política surgiu para hierarquizar um país, a polícia para garantir a segurança, a educação para nos doutrinar por meio das ciências, hoje conhecidas, e assim por diante.

Nesse panorama imenso, aprendemos a nos relacionar, a construir amizades e amores; aprendemos a discordar de ideias que nos eram impostas, mas muitas nós a aceitávamos sem argumentar. Outras vezes choramos, sorrimos, brigamos e lamentamos. Todas essas ações, que por vezes acontecem num único dia, revelam os rituais que criamos conforme o nosso mito de viver e, por todas essas relações, estabelecemos um ser de relações criado por nós e simultaneamente por toda a humanidade.

O tempo continuava a passar e o homem continuava vivendo entre amigos e familiares, entre a sociedade e o trabalho. Vivíamos, enfim, sem saber o porquê, continuamos a dormir e acordar sem parar. As vezes, éramos embrulhados por ideias questionadoras dos “porquês” das coisas, mas logo, nos distraíamos com o ônibus que tinha chegado no ponto ou com o toque do telefone.

Vivemos e morremos todos os dias desamparados e inquietos por uma busca cotidiana que não sabemos o que é e nem do que é feita, temos toda a liberdade e a gratidão para se fazer o que quiser, e mesmo assim somos tomados por uma angústia repentina do mesmo porque.

O homem que caçava na pré-história, é o mesmo homem que se vê por toda a humanidade. O mundo foi criado, assim como história, a ciência e a arte. Imprimimos a nossa vida sobre a grande tela do mundo, a colorimos todos os dias pedacinho por pedacinho.

O mundo e o homem estão aí, vivendo sob a luz explicativa das doutrinas religiosas, da cultura ou por si mesmo, porém, temos a obrigação e a liberdade de continuar a fazer tudo o que já foi montado, temos que desempenhar todas nossas obrigações, ou mesmo não fazê-las. Podemos querer não viver mais, mas isto não significa que toda a transformação que nos cerca irá se desmanchar, visto que a morte é um processo lento da vida, e que uma é o limite da outra.

O homem se constrói e simultaneamente constrói toda a humanidade. Há desvios nessa construção humana, alguns querem o seu bem individualizado sem considerar o bem da humanidade, e isso, acaba por abalar as estruturas da coesão social.

O tempo passa e passa, uns dirigem pelas avenidas, outros atravessam a faixa de pedestres, estamos todos dentro da humanidade que é o espelho de cada indivíduo, dia a dia somos incutidos dentro de uma sociedade com regras que nós criamos, com um principal dever de tentar encontrar as respostas para todas as nossas angústias como humanos, pensando no complexo relacionamento e responsabilidade que temos uns com os outros.


Na janela uma moça olha a rua
A árvore balança no vento noturno
Uma luz se acende no horizonte
A lua bóia no mar de estrelas

Tudo para e se move
A dança cotidiana da morte se desenrola veloz
Cutuca os corações apressados pela rua
Leva numa última fotografia
O sorriso da criança

Uma luz se apaga na fazenda
A cada instante, um Narciso nasce
A flor é colhida pela eternidade
E se concretiza na humanidade.



Boa filosofia a todos!



Texto e poema por Natalia Iorio Garcia


Imagem de José Firmino Ribeiro retirada do site: http://www.olhares.com/