sábado, 19 de setembro de 2009

Relatividade aplicada à vida

- Bruna, presta atenção: imagine um referencial parado numa plataforma de uma estação de trem, certo?
- Certo...
- Agora imagina que você está no ultimo vagão, sim? Pensando do ponto de vista desse referencial fixo na plataforma, quando o primeiro vagão chegar na plataforma e passar por esse referencial, o último vagão ainda não terá passado pelo mesmo referencial. Se um relógio fosse colocado nesse referencial você não acha que o tempo para o primeiro vagão chegaria antes que o tempo para o último vagão?
- Ah, é...
- Assim ó, os segundos iriam acontecer antes para o primeiro vagão, e enquanto o tempo estivesse passando para o primeiro vagão, ele não teria chegado no último, então o tempo no último vagão estaria atrasado em relação ao primeiro.
- É acho que faz sentido.
- Adorei essa ideia, mas acho que estou com sono.

O metro estava chegando na plataforma, eram sete horas da manhã de um sábado com temores de temporal.

- Olha isso, não é esquisito temos uma boca, dois olhos, um nariz, duas pernas e dois braços como todo mundo dentro deste metro? – disse Bruna pensativa e com os olhos sutilmente assustados – Não é estranho, e mesmo sendo tudo igual a gente é tão diferente um dos outros não é?
- É esquisito, dá uma sensação estranha de eu olhar para todos em volta e saber que sou dessa espécie esquisita. – pensei eu.
- Nossa eu sou um humano!

O sol, por ora, aparecia no céu de várias cores de nuvens de chuva, enquanto andávamos pelo centro de São Paulo. As lojas estavam abrindo e alguns moradores de rua passavam nos espiando desconfiados.

- Sabe, quando olho todos esses prédios enormes, todas as construções, o trânsito, os semáforos, as pessoas andando e tudo o mais, não tem como não pensar: o que é isso tudo? – refletia eu - imagina que isso tudo só faz sentido para nós que estamos vivendo aqui dentro, e olha como somos organizados, sabemos que temos que esperar o semáforo de pedestres ficar verde para sabermos que temos que atravessar a rua. Mas quem foi que disse que tinha que ser o verde, porque não o roxo? Meu Deus quanta coisa esquisita.
- É... A gente só continua fazendo as coisas porque estamos acostumados a tudo isso e achamos que é tudo simples, mas não é não, olha tudo o que criamos, assim, de uma hora para outra.
- Bruna, presta atenção, a gente está dentro de um planetinha e, ai criamos tudo isso aqui, mas poderia ser diferente? Queria poder ver o diferente.

Andamos mais um pouco, divagando enquanto a cidade acordava.

- Estava pensando essa semana, estou nessa minha vida, todas as coisas que aconteceram foram para que eu estivesse vivendo como estou vivendo hoje, mas será que eu não poderia ter várias vidas paralelas, várias outras situações minhas acontecendo que não estão acontecendo agora onde estou? – repliquei novamente. – assim, se algo não aconteceu aqui onde estou, será que em algum outro lugar a outra coisa que não aconteceu poderia estar acontecendo agora? Aí pensa, poderíamos ter diferentes tipos de vida e de felicidade. Se algo que não aconteceu aqui, agora, pudesse ou estivesse acontecendo em algum outro lugar comigo, eu poderia estar feliz em algum lugar daquela maneira que não a de agora. Faz sentido?
- É faz sim! Foi disso que falei um dia, mas de outro jeito.
- Coisa chata a gente né, por que o homem tem que ficar pensando nessas coisas e nunca ter resposta de nada. O que eu estou fazendo aqui? Quero saber droga! Não posso saber não?

Olhei para Bruna e ela fez uma expressão de questionamento.

- É acho que não posso saber das coisas não é, ninguém sabe.
- Estou com fome e sede, mas comprei uma água com gosto de plástico.
- Imagina... – eu disse - não, não, deixa. Parei de ficar pensando assim, tem hora que cansa ficar pensando no mecanismo de tudo, mas é legal!

Terminamos de subir a rua, e o dourado do sol cobria finamente o concreto dos edifícios e casas. Andávamos, caminhávamos e respirávamos, como todos os outros. A continuidade da vida era tão simples e tocante que era possível escutar musica de todas as existências acontecendo ao mesmo tempo. Todos iam e vinham, tínhamos pressa de chegar em nossos destinos que, no fim, não nos levaria a lugar algum ou, talvez, a todos os lugares.

“(...) Daqui desse momento, do meu olhar pra fora, o mundo é só miragem. A sombra do futuro, a sobra do passado, assombram a paisagem.
(...)
A lógica do vento, o caos do pensamento, a paz na solidão. A órbita do tempo, a pausa do retrato, a voz da intuição. A curva do universo, a fórmula do acaso, o alcance da promessa. O salto do desejo, o agora e o infinito. Só o que me interessa "


Lenine – É o que me interessa

Imagem retirada do site: http://reciclocidade.files.wordpress.com/2007/10/avenida-paulista.jpg


Boa filosofia a todos!

* crédito do título para Bruna Carolina Bispo.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Sobre técnicas e homens

O panorama geral da educação que vemos hoje no Brasil está, muito fortemente arraigada aos processos históricos decorrentes da formação educacional no território nacional. Quando os primeiros catequizadores, provenientes da Europa, ancoraram nos portos brasileiros a fim de catequizar as tribos indígenas, estes não levaram em consideração as diferenças culturais entre eles, os europeus e os índios; e assim, trataram de ensinar aos povos nativos a língua européia para que, posteriormente, fossem lhes ensinadas as doutrinas do Catolicismo.

Com o passar do tempo, os índios perderam sua identidade cultural e, até mesmo, religiosa, e foram submetidos aos princípios e ideologias decorrentes de pensamentos europeus. Começava aí, a formação da educação brasileira que, com o passar dos séculos, foi se adaptando e se modificando conforme as necessidades dos alunos. No início, as escolas eram, apenas, para alunos pertencentes à classe dominante da sociedade, ou seja, pertencente às elites. A partir dessa separação de classes sociais, já se criava uma idealização e uma maior importância para os “bem nascidos” da sociedade, aumentando, assim, as diferenças sociais tão marcantes em nossa sociedade, vistas nos dias de hoje.

Mudanças políticas e estruturais na sociedade foram geradas, universidades criadas, leis de fundamento educacional foram aprovadas, escolas gratuitas foram institucionalizadas e, órgãos, ministérios e estatutos foram feitos para subsidiar a educação no Brasil.

Por mais que projetos de desenvolvimentos educacionais fossem feitos para criar melhorias no alcance da educação à todas as comunidades e, que programas de planejamento na abordagem pedagógica que os professores tinham com os seu alunos fossem feitas, a escola tradicional ainda era um fator importante no ensino.

Os modelos da escola tradicional principiam a submissão do aluno ao mestre, que por ora, é visto como a pessoa dotada de poder intelectual sobre os estudantes. O próprio ambiente da sala de aula nos remete a essa imagem: os estudantes enfileirados de forma regular pela sala, o professor à frente dos mesmos discursando sobre os conteúdos necessários para a formação de um cidadão.

Entretanto, a escola tradicional não vê diferenças singulares que uma pessoa, no caso, que um aluno pode ter do outro. Tratando-se de seres humanos o ambiente escolar não deve ser algo mecânico e completamente técnico, o homem é volúvel e um não é igual ao outro, todos nós temos nossas singularidades, defeitos e qualidades.

Tais diferenças próprias do caráter humano eram evidenciadas num ambiente educacional e vivenciadas de forma a pronunciar o preconceito e a discriminação de uma pessoa com a outra.

Quando um aluno possui maneiras diferentes de aprendizado que não se assemelham ao restante, o grupo percebe essa diferença e tem dois caminhos a seguir: ou o grupo discrimina a pessoa e a exclui do mesmo, ou o grupo inclui essa pessoa aceitando as suas diferenças, compartilhando experiências mutuamente.

O que se vê na esfera educacional brasileira é, justamente, a primeira opção. A forma com que a educação foi estruturada ao longo do processo histórico evidencia o preconceito e a marginalização dos que são denominados “diferentes” do restante da comunidade. Felizmente, grupos de intelectuais e a própria sociedade, vem percebendo que esse preconceito é algo maléfico e atrasado para o próprio desenvolvimento de todas as partes de uma sociedade.

Projetos de inclusão educacional estão sendo criados e implantados a fim de garantir uma melhor qualidade de vida e de aprendizado para os alunos. Quando a criança e, até mesmo, o adolescente, tem contato com outras pessoas, há um desenvolvimento do próprio caráter humano de respeito e de humildade ao próximo. A abordagem natural e inequívoca de perceber que as diferenças entre os homens é algo completamente natural, abre espaço para que diferentes culturas se conheçam e, assim, possam mutuamente transferir e compartilhar visões diferentes de mundo, além de costumes, religião, crenças e maneiras diversas de aprendizado.

O constante contado de um grupo com outros, promove, quase que obrigatoriamente, a noção de nação entre os indivíduos, de cooperação e de cidadania e, também, de democracia. As interfaces das diferenças são simultaneamente insignificantes quando um grupo aprende a aceitar as peculiaridades do outro, e dessa forma, permite que uma pessoa possa aprender com a outra.

Programas de inclusão educacional não dependem unicamente do grupo abordado em questão, mas dos próprios educadores e do próprio governo em ser receptivo ao que tange à estruturação do ambiente escolar.

Os educadores precisam desenvolver técnicas adequadas para lidar com diversos grupos de alunos, assim como, saber como interagir com alunos com algum tipo de deficiência física e de aprendizagem para que, a pessoa em questão não se sinta como uma peça fora do próprio sistema. Os mestres precisam desenvolver ideias de humildade, solidariedade e respeito mútuo entre seus alunos.

O governo deve planejar formas de incorporar pessoas marginalizadas pela situação social dentro da esfera educacional e, promover reformas estruturais no plano de educação e na formação e capacitação de seus professores.

Infelizmente, projetos assim não são fáceis de serem manipulados quando o próprio Brasil já possui uma segregação social herdada de séculos passados. A própria história brasileira é cheia de diferenças entre classes sociais e de preconceito com as diferenças que existem entre os seres humanos.

A inclusão social é algo importante para o desenvolvimento de uma nação e faz com que, fatores como o próprio preconceito, a violência e a marginalização fiquem sem significado no que tange a complementaridade que uma sociedade precisa ter com seus indivíduos e culturas tão diversas.



Imagem retirada do site: http://blog.cancaonova.com/pensandobem/files/2007/11/pai-e-filho1.JPG


Texto por Natalia Iorio Garcia

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Uma pausa ...



Por que as coisas são o que são e não o que não são?


A cidade está movimentada, é noite na capital de São Paulo. Alguns dirigem seus carros pelas avenidas, outros atravessam a faixa de pedestres, alguns dormem, muitos outros conversam. Nessa tamanha alienação de viver cotidianamente igual, ou quase igual, por vezes nos questionamos sobre o significado de tudo e de todos.

Dentro desse questionamento sobre o significado do mundo, está inserida a pergunta feita acima, se o mundo se manifesta da maneira como o enxergamos, poderia ele ser de outra forma? E qual seria essa forma?

São muitas as explicações para tais questionamentos, e suas respostas, quase sempre, provém de doutrinas religiosas e ideologias próprias de cada indivíduo. O homem sempre procurou um meio de encontrar a luz que revelaria toda a sua angústia sobre o intuito de viver, de ser jogado em um planeta com outros seres e outros homens semelhantes a ele e não descobrir o porque.

Enquanto o homem não encontrava a chave para a sua resposta, ele foi descobrindo coisas e inventando outras. No início da história humana, as pessoas caçavam e pouco falavam, com o tempo, os descendentes dessas pessoas começaram a se socializar uma com as outras: armas de caça surgiram, comunidades familiares foram organizadas e animais foram domesticados.

Um pouco mais de tempo se passou, e esse mesmo homem (esse homem descreve o homem coletivo), fez guerras, conquistou territórios, encontrou alguns países perdidos pelo oceano, formou dinastias, impérios e repúblicas.

Dentro desse cenário transformador, as sociedades foram construídas e inserido nesse cenário surgiram as famílias, a religião, a cultura, a escola, a política, a arte e tudo o que nos cerca. Cada pecinha dessa sociedade, chamadas instituições sociais, foram as várias respostas que o ser humano encontrou para dar e manifestar o significado daquelas perguntas iniciais.

Todas essas instituições sociais foram feitas a partir de ideologias pertencentes a um certo grupo de pessoas, nessas ideologias havia o mito, algo criado para sustentar uma sociedade e dar significado a mesma. O mito se concretiza com o rito, que é a realização material do mito.

Nas religiões, por exemplo, o homem criou uma instituição em que são ensinados ou repassados ensinamentos e pensamentos de uma doutrina, uma aceitação sobre algo ou alguma coisa, um conceito criado para ligar pessoas. Inserida nessa instituição há hierarquias e regras, como em qualquer lugar.

Essa forma de o homem organizar o meio em que vive, serviu como meio de garantir uma coesão entre as pessoas e as sociedades. Foram feitas regras que legitimavam tal organização social, punições para quem as não respeitasse, a política surgiu para hierarquizar um país, a polícia para garantir a segurança, a educação para nos doutrinar por meio das ciências, hoje conhecidas, e assim por diante.

Nesse panorama imenso, aprendemos a nos relacionar, a construir amizades e amores; aprendemos a discordar de ideias que nos eram impostas, mas muitas nós a aceitávamos sem argumentar. Outras vezes choramos, sorrimos, brigamos e lamentamos. Todas essas ações, que por vezes acontecem num único dia, revelam os rituais que criamos conforme o nosso mito de viver e, por todas essas relações, estabelecemos um ser de relações criado por nós e simultaneamente por toda a humanidade.

O tempo continuava a passar e o homem continuava vivendo entre amigos e familiares, entre a sociedade e o trabalho. Vivíamos, enfim, sem saber o porquê, continuamos a dormir e acordar sem parar. As vezes, éramos embrulhados por ideias questionadoras dos “porquês” das coisas, mas logo, nos distraíamos com o ônibus que tinha chegado no ponto ou com o toque do telefone.

Vivemos e morremos todos os dias desamparados e inquietos por uma busca cotidiana que não sabemos o que é e nem do que é feita, temos toda a liberdade e a gratidão para se fazer o que quiser, e mesmo assim somos tomados por uma angústia repentina do mesmo porque.

O homem que caçava na pré-história, é o mesmo homem que se vê por toda a humanidade. O mundo foi criado, assim como história, a ciência e a arte. Imprimimos a nossa vida sobre a grande tela do mundo, a colorimos todos os dias pedacinho por pedacinho.

O mundo e o homem estão aí, vivendo sob a luz explicativa das doutrinas religiosas, da cultura ou por si mesmo, porém, temos a obrigação e a liberdade de continuar a fazer tudo o que já foi montado, temos que desempenhar todas nossas obrigações, ou mesmo não fazê-las. Podemos querer não viver mais, mas isto não significa que toda a transformação que nos cerca irá se desmanchar, visto que a morte é um processo lento da vida, e que uma é o limite da outra.

O homem se constrói e simultaneamente constrói toda a humanidade. Há desvios nessa construção humana, alguns querem o seu bem individualizado sem considerar o bem da humanidade, e isso, acaba por abalar as estruturas da coesão social.

O tempo passa e passa, uns dirigem pelas avenidas, outros atravessam a faixa de pedestres, estamos todos dentro da humanidade que é o espelho de cada indivíduo, dia a dia somos incutidos dentro de uma sociedade com regras que nós criamos, com um principal dever de tentar encontrar as respostas para todas as nossas angústias como humanos, pensando no complexo relacionamento e responsabilidade que temos uns com os outros.


Na janela uma moça olha a rua
A árvore balança no vento noturno
Uma luz se acende no horizonte
A lua bóia no mar de estrelas

Tudo para e se move
A dança cotidiana da morte se desenrola veloz
Cutuca os corações apressados pela rua
Leva numa última fotografia
O sorriso da criança

Uma luz se apaga na fazenda
A cada instante, um Narciso nasce
A flor é colhida pela eternidade
E se concretiza na humanidade.



Boa filosofia a todos!



Texto e poema por Natalia Iorio Garcia


Imagem de José Firmino Ribeiro retirada do site: http://www.olhares.com/

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Um olhar para a lua


Até a época de Aristóteles ninguém havia, ainda, pensado em medir distâncias entre a Terra e qualquer outro astro celeste, ou até mesmo na determinação do tamanho da própria Terra. Aristarco de Samos, astrônomo da Grécia Antiga foi o primeiro a usar métodos de medição de distâncias da Terra em relação aos astros do céu.

Curioso pensar que a palavra de Aristóteles até então, tinha uma grande manifestação sobre os trabalhos dos cientistas antigos, alguns aceitavam sua cosmovisão, outros iam contra a estabilidade da Terra no centro do Universo.

No trabalho de Aristarco de Samos, não há grande importância à sua cosmogonia, entretanto, sua literatura esta centrada na determinação de distâncias. A base de suas medições se principiou com o uso de um instrumento, chamado balestilha, na determinação da posição de estrelas.

A balestilha é um instrumento que media a posição das estrelas numa noite de acordo com os ângulos que as mesmas formavam no céu. Esse instrumento foi muito utilizado para a determinação de latitudes usadas em navegações, usando simples métodos trigonométricos de proporcionalidade entre as distâncias.

O primeiro objetivo de Aristarco foi medir a distância da Terra à Lua e, depois, da Terra ao Sol. Para isso, o astrônomo comparou a Terra com a Lua quando está se encontrava na fase de quarto crescente, em relação a distância da Terra e da Lua ao Sol. Com isso, Aristarco, obteve um triângulo retângulo, em que o vértice do triangulo com 90º, correspondia a posição da Lua.

Feito esse triângulo, Aristarco conseguiu determinar o ângulo que o triângulo formava no vértice em que o Sol se encontrava, um valor correspondente a 3º; a partir desse ângulo, o cientista, usando regras trigonométricas do seno e da tangente, obteve a distância da Terra ao Sol.

Por mais que o método dessa dedução de distâncias estivesse correto, Aristarco não chegou aos valores corretos, que são conhecidas atualmente. O erro do seu método consiste em que é muito difícil se determinar o instante exato da fase da lua no quarto crescente apenas com observações a olho nu.

Faltava, ainda, determinar a distância da Terra à Lua. Para isso, Aristarco, usou um método muito inteligente e aplicável: analisou um eclipse da Lua e mediu o tempo máximo de permanência do eclipse, com isso ele conseguiu determinar quantas luas cabiam dentro do cone da penumbra da Terra.

Primeiramente, com o tempo medido correspondente a duração do eclipse, Aristarco obteve o diâmetro da Terra, e com esse valor comparou com o diâmetro da Lua e, segundo métodos trigonométricos de proporcionalidade, ele descobriu a distância da Terra à Lua.

Novamente, o método usado estava correto, porém os valores estavam incorretos comparados aos valores atuais.

Mesmo usando métodos corretos e sofisticados, Aristarco obteve resultados muito desproporcionais aos conhecidos hoje, não por ter utilizado o método erroneamente, mas porque, era muito difícil e, até certo ponto, impossível de se determinar o minuto correto em que a lua entra na fase de quarto crescente, por exemplo. Até nos dias atuais essa determinação é de difícil visualização.

Outra dificuldade diz respeito aos cálculos de ângulos entre as distâncias do Sol á Terra e da Lua à Terra, também.

Por fim, destaca-se a elegante ideia de Aristarco quanto ao cálculo das distâncias, são métodos completamente utilizáveis e modernos. Apesar dos erros finais, o astrônomo prova que a ciência, assim como a filosofia, não sofre transformações, mas sim, elas evoluem, trazendo um pouco do passado e do presente; onde, os dois juntos formam o futuro que um dia será passado novamente.
O ato transformador é que dá vida as invenções e as descobertas científicas e permite que nos experimentos cotidianos, um pouquinho daquela verdade que todos procuram se mostre mais claramente.
Boa filosofia a todos!

Imagem retirada do site: http://web.educom.pt/fq/biografia/aristarco.jpg

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Sobre os Céus

Como discípulo de Platão, temos Aristóteles, tão conhecido e pronunciado por nós em conversas formais e, por ora, informais. Aristóteles possui um requinte muito apreciado atualmente. Em toda a sua obra, ele mantém o modelo de pensamento igual para todos os aspectos filosóficos de seu pensamento. Isto é, toda a sua estrutura de pensamento é a mesma aplicada em todos os tipos de ciência por ele desenvolvida.

Dentre suas obras, as de maior destaque das ciências naturais são: Meteorologia, Physica, De Caelo e De Generatione et Comptione. O conteúdo dessas obras trata sobre o princípio do movimento das coisas, a construção do pensamento lógico e racional do ser humano, sua cosmovisão e a constante destruição e construção do ser e do pensamento em que todos os homens estão propensos a ter.

Aristóteles foi o primeiro filósofo de que se tem conhecimento a usar métodos de classificação e catalogação de coisas e seres. Como ideia básica, ele divide o mundo, para nós chamado de Universo em quatro elementos mais um: a terra, a água, o ar, o fogo e o éter.

Dentro dessa divisão aristotélica dos elementos, surge a visão do Universo segundo esse filósofo grego. Segundo ele, os quatro elementos, a terra, a água, o ar e o fogo, pertencem ao mundo sublunar, o que significa que esses elementos só existem abaixo da órbita da Lua; já o éter, é encontrado apenas no mundo extralunar, ou seja, acima da órbita da Lua.

Há na obra aristotélica uma grande referência e singularidade no trato com os movimentos dos objetos. Para Aristóteles, todo objeto tem um movimento natural que pertence unicamente àquele corpo, e esse movimento é promovido pelas características de que ele é feito. Dessa maneira, os quatro elementos e o éter, determinavam os movimentos característicos de cada objeto, dependendo da quantidade em que eram encontrados em cada corpo.

O fogo e o ar possuem movimentos naturais verticais retilíneos ascendentes, a terra e a água possuem movimentos naturais verticais retilíneos descendentes. Dentro desta classificação, Aristóteles, argumenta que se um objeto produz um movimento diferente dos já classificados, este corpo ou é feito da composição dos quatro elementos, ou este corpo está desempenhando um movimento violento, que significa um movimento forçado, em oposição àquele movimento natural característicos do corpo em questão.

Foi a partir dessa divisão de movimentos e elementos, que Aristóteles defende sua ideia de que a Terra está parada no centro do universo, porque se o movimento natural da terra é de descender, é racional pensar que o movimento natural da Terra é ficar parada no centro do Universo.

No mundo do éter, os movimentos que os quatro elementos desempenham não são aplicados no mesmo. O movimento natural do éter é o movimento circular uniforme, e é por esse motivo que os planetas, o sol e as estrelas estão orbitando ao redor da Terra, seria impensável que a Terra feita predominantemente do elemento terra se movimentasse ao redor de algo, sendo que este movimento circular é característica de objetos feitos de éter.

Os pensamentos e as visões aristotélicas são muito amplas e argumentativas, os conceitos de movimento são correlacionados segundo dois estados: o da metabolé que é o movimento da transformação que algo ou alguém possa desenvolver, ou o estado da knésis, o movimento físico e instantâneo que um objeto ou um ser possa desempenhar.

Para Aristóteles, o poder de transformação das coisas se classificava num conceito seu denominado Ato e Potência. O Ato é tudo aquilo que existe dentro de um ser, algo que mesmo que se transforme, ou seja, vire a Potência, a essência desse ser sempre estará nesse corpo, mesmo que este esteja em constante transformação dentro da Potência.

Exemplo disso é o crescimento de uma planta. A semente é o Ato da planta, enquanto a Potência é a planta já crescida, depois de sofrer todas as transformações necessárias para tal. Entretanto nesse processo transformativo, o Ato, a semente, continua dentro da Potência da planta, a origem ou a essência da planta continua indefinidamente com ela, independente de sua transformação.

Dentre todas as ideias aristotélicas, as que foram anunciadas acima, não promovem uma relação completa da obra de Aristóteles. Sua literatura é tão vasta quanto o seu pensamento o foi, entretanto, dentro das ciências naturais, mais especificamente a física, os conceitos cosmológicos e dos movimentos naturais, serão fortes argumentos para os cientistas da idade média.

Durante séculos Aristóteles foi o pensador de maior referência do mundo antigo, seus argumentos e sua filosofia possuem conceitos e definições muito coerentes e admissíveis. Mesmo com todos os avanços tecnológicos que temos hoje ao redor do mundo, e mesmo com todos os desvendamentos científicos que temos diariamente, o legado aristotélico possui uma importância enorme para todos os campos do conhecimento humano, e se, ainda, pudéssemos fazer uma análise mais cuidadosa do pensamento aristotélico, poderíamos até acreditar em suas teorias e entender que a história e a filosofia são as pontes que ligam o nosso Ato à nossa Potência.
Boa filosofia a todos!


Imagem retirada do site: http://www.riobranco.org.br/arquivos/sites2008/6_agosto/grupo7/grupo/Imagens/aristoteles2008.jpg

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Platão em espírito

Muito se fala sobre o Platão do Mito da Caverna, do mundo das ideias e do mundo das sensações. Há outras informações sobre Platão que são pouco difundidas, mas que guardam um gigantesco significado, tanto filosófico como cientifico.

A ideia principal de Platão ao escrever a Alegoria da Caverna, ou Mito da Caverna como é mais conhecido, foi a de inventar uma história mítica e usá-la como um método educativo para quem a lesse. Esse processo educativo acontecia por meio de imagens dialéticas que se aproximavam da realidade da pessoa que iria ler a história.

Para Platão, o mundo estava dividido em outros dois, o mundo das sensações e o mundo dos essenciais ou mundo das ideias. O mundo das sensações é um mundo das aparências, um mundo interpretado pelos nossos sentidos e, por esse motivo, o significado que chega até nos desse mundo é falso. Já o mundo das ideias, é um mundo que não temos acesso diretamente, é um lugar onde se pode encontrar a verdadeira essência do Universo e de tudo o que o compõem, é um lugar em que se pode descobrir toda a verdade, esta que só pertence a Deus.

Já que o mundo das ideias concretas não é acessível tão diretamente como o mundo das sensações, Platão afirmava que era preciso treinar a alma humana para se chegar a tal nível, esse treino consistia na meditação e em estudar a essência das coisas, ou seja, estudar o mundo que nos rodeia por meio da razão, da matemática pura.

Dentro dessa concepção de idealidade de mundos, Platão dizia que todo fenômeno que víamos na Terra e no Universo era uma impressão falsa daquilo que não conseguíamos ver, ou seja, a nossa visão e a nossa alma não estão treinadas para enxergar a verdadeira plenitude de todas as coisas.

Exemplo dessa imperfeição dos sentidos foi um problema muito comum entre os cientistas gregos antigos: a irregularidade dos movimentos planetários no céu. Na Antiguidade grega, os pensadores acreditavam na perfeição e na harmonização do cosmos, e de todas as coisas que o compunha. A observação astronômica diária permitiu que esses pensadores percebessem que os planetas não se movimentavam de forma regular na esfera celeste, o que quer dizer que, para esses cientistas, a perfeição do movimento dos astros se resumia ao movimento circular uniforme.

O que era visto no céu noturno da Grécia, era um movimento estranho, como se os planetas fizessem um zigue zague no céu. Esse movimento de zigue zague, também conhecido como o movimento de laçada dos planetas, muito intrigava aqueles filósofos; e foi daí que Platão surgiu com o pensamento de que aquele movimento estranho realizado pelos planetas era uma trajetória interpretada falsamente pelos nossos sentidos.

Dentro dessa visão dos movimentos irregulares dos astros, surge a concepção cosmológica de Platão. Para ele, o Universo, inicialmente, era uma matéria criada de uma substância amorfa, e a forma dessa substância era dada por um “artesão”, uma divindade chamada de Demiurgo.

Demiurgo era o deus de Platão, e esse deus era a maior perfeição de todo o Universo, e como foi esse artesão que criou e deu forma ao Universo, era compreensível que o Universo tivesse as impressões e características desse deus perfeito. A perfeição platônica consistia em três características básicas: tinha que ser bom, belo e descrever movimentos circulares e uniformes no céu.

Ainda sobre a cosmovisão platônica, para esse filósofo, a Terra estava parada no centro do Universo enquanto que os outros planetas orbitavam ao redor do nosso planeta.
Para explicar a imperfeição dos movimentos planetários, Platão desenvolveu a ideia de composição de movimentos, em que dizia que as laçadas dos planetas eram múltiplos movimentos circulares uniformes atuando sobre um corpo, assim, o movimento continuava sendo perfeito, assim como o seu movimento, mesmo que para os nosso sentidos o movimento parecesse irregular e estranho.

Resumidamente, Platão busca explicar as irregularidades do mundo com base em sua alegoria, e prova que, apenas por meio da matemática, que é possível conhecer a verdadeira essência do Universo. A criação de um deus artesão bom, belo e perfeito, condiz com o conceito do mundo das ideias do Mito da Caverna. Platão conecta o mundo racional com o mundo da espiritualidade humana, tenta preservar a ideia de que dentro de toda espiritualidade há certa racionalidade, facilmente interpretada pela matemática e pela geometria.

O deus artesão que deu forma ao universo, nos deu forma também, porque somos parte do Universo; dessa maneira, Demiurgo habita em nossa matéria, e é através da meditação da alma e da interpretação matemática que podemos encontrar esse Demiurgo dentro de nós mesmos, ou seja, só assim que chegamos ao mundo das ideias, segundo Platão.
Boa filosofia a todos!

Imagem de William Blake em que é retratado o momento da criação do Universo por Demiurgo.

domingo, 10 de maio de 2009

Platão em matéria

São três os nomes de que mais temos conhecimento, cotidianamente, sobre a filosofia antiga da Grécia: Sócrates, Platão e Aristóteles. Esses três pensadores constituem a nossa maior ideia e até, a nossa imaginação do que era a Grécia e de como era desenvolvido o pensamento filosófico da época, assim como as ciências naturais.

Não há obras, documentos e nem ao menos fragmentos socráticos, porém, Sócrates, o grande filósofo, foi descrito e moldado, de certa forma, por Platão em suas várias obras. Portanto, não é pouco dizer que foi o próprio Platão que deu vida ao Sócrates. Naquela época era comum pensadores fazerem referências a outros filósofos, a ideia maliciosa que temos de plagio, hoje em dia, não era tão praticada pelos intelectuais antigos.

Platão possuí uma vasta literatura muito renomada até a atualidade. Entre sua literatura se destacam livros como República, que trata de temas como a vida social e o compartilhamento social humano e Timeo, que fala sobre a cosmovisão platônica.

Dizia Platão que os pitagóricos eram impiedosos por não acreditarem em deuses, entretanto, as bases fundamentais da filosofia platônica provinham das ideias pitagóricas. Uma delas é de que toda a materialidade existente na Terra e no universo tinha como estrutura verdadeira a Matemática e a Geometria. Para esse filósofo, os quatro elementos principias da natureza, a terra, o ar, o fogo e a água, eram formados em sua essência primordial, por figuras geométricas.

Dessa maneira, cada elemento correspondia a quatro sólidos geométricos regulares (de lados iguais); ou seja, o fogo era representado pelo tetraedro, a terra pelo cubo, o ar pelo octaedro e a água pelo icosaedro.

Seu conceito consistia, entre outras coisas, na harmonização natural do mundo e do próprio Universo. Para ele, a harmonia e a simetria, seja ela de uma equação, de um rosto ou de um tronco de árvore, eram leis fundamentais que regiam a vida. Essa concepção de harmonia ainda é muito difundida entre nós; Newton quando elaborou suas leis sobre a mecânica, pensava e conceituava acerca da simetria da força, como é facilmente visto no par de forças que a Lei da Ação e Reação descreve, por exemplo. Em tudo procuramos o equilíbrio, o bem e o mal, o claro e o escuro, o frio e o quente, e essa concepção nos parece muito simples e demasiada correta. Foi dessa maneira, que Platão em sua teoria sobre as figuras geométricas, assim como vários outros cientistas, procuravam embasar toda a sua sabedoria e obra.

Sobre a geometria da matéria, ainda faltava uma pergunta: se apenas os quatro elementos fundamentais da natureza tinham representantes geométricos regulares, como as outras coisas que compunham todo o restante da natureza se formavam? Platão encontrou um argumento tão consistente para essa questão, que se a analisarmos rapidamente iríamos atribuir a esse argumento, um novo conceito de atomismo.

Para esse filósofo, a imagem geométrica de cada elemento podia se dividir em partes iguais, assim cada parte quebrada ou dividida, formaria uma nova figura geométrica e assim constituiria um novo elemento. Por exemplo, o fogo correspondente ao tetraedro, se dividiria e originaria dois triângulos de lados iguais, se esses dois triângulos se quebrassem novamente, iriam formar outra figura; dessa maneira, a quebra da figura sucessivamente, originaria diferentes tipos de fogo.

Uma análise mais aprofundada dessa teoria, nos mostra que para uma estrutura ser dividida em outra, esta precisa de espaços vazios para que o fenômeno ocorra, entretanto, Platão abominava a ideia do vazio entre a matéria, para ele o mundo era composto maciçamente de matéria.

Curiosamente, Platão, em sua descrição sobre a estrutura da matéria se contradiz, de certa forma, no que diz respeito a sua crítica feita aos pitagóricos. Os argumentos usados por ele, como o de harmonização do mundo e o da Matemática e da Geometria como sendo o princípio fundamental das coisas, muito se relacionam com as obras pitagóricas. Platão refuta outras ideias, porém nos revela um incrível e elaborado pensamento racional e, ao mesmo tempo, simbólico, do ponto de vista da vida humana.

O equilíbrio que ele tenta demonstrar por meio das figuras geométricas, pode ser interpretado por conceitos sociais, na desigualdade da população numa certa comunidade; religiosos, na busca de um deus formador de tudo, perfeito e inteligível como a matemática é para os homens e, científicos, na harmonização de todos os fenômenos encontrados e presenciados na natureza.

Platão nos mostra sua grandiosa mente e nos faz pensar sobre a grande balança que conduz a vida e o mundo.
Boa filosofia a todos!

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