segunda-feira, 18 de maio de 2009

Platão em espírito

Muito se fala sobre o Platão do Mito da Caverna, do mundo das ideias e do mundo das sensações. Há outras informações sobre Platão que são pouco difundidas, mas que guardam um gigantesco significado, tanto filosófico como cientifico.

A ideia principal de Platão ao escrever a Alegoria da Caverna, ou Mito da Caverna como é mais conhecido, foi a de inventar uma história mítica e usá-la como um método educativo para quem a lesse. Esse processo educativo acontecia por meio de imagens dialéticas que se aproximavam da realidade da pessoa que iria ler a história.

Para Platão, o mundo estava dividido em outros dois, o mundo das sensações e o mundo dos essenciais ou mundo das ideias. O mundo das sensações é um mundo das aparências, um mundo interpretado pelos nossos sentidos e, por esse motivo, o significado que chega até nos desse mundo é falso. Já o mundo das ideias, é um mundo que não temos acesso diretamente, é um lugar onde se pode encontrar a verdadeira essência do Universo e de tudo o que o compõem, é um lugar em que se pode descobrir toda a verdade, esta que só pertence a Deus.

Já que o mundo das ideias concretas não é acessível tão diretamente como o mundo das sensações, Platão afirmava que era preciso treinar a alma humana para se chegar a tal nível, esse treino consistia na meditação e em estudar a essência das coisas, ou seja, estudar o mundo que nos rodeia por meio da razão, da matemática pura.

Dentro dessa concepção de idealidade de mundos, Platão dizia que todo fenômeno que víamos na Terra e no Universo era uma impressão falsa daquilo que não conseguíamos ver, ou seja, a nossa visão e a nossa alma não estão treinadas para enxergar a verdadeira plenitude de todas as coisas.

Exemplo dessa imperfeição dos sentidos foi um problema muito comum entre os cientistas gregos antigos: a irregularidade dos movimentos planetários no céu. Na Antiguidade grega, os pensadores acreditavam na perfeição e na harmonização do cosmos, e de todas as coisas que o compunha. A observação astronômica diária permitiu que esses pensadores percebessem que os planetas não se movimentavam de forma regular na esfera celeste, o que quer dizer que, para esses cientistas, a perfeição do movimento dos astros se resumia ao movimento circular uniforme.

O que era visto no céu noturno da Grécia, era um movimento estranho, como se os planetas fizessem um zigue zague no céu. Esse movimento de zigue zague, também conhecido como o movimento de laçada dos planetas, muito intrigava aqueles filósofos; e foi daí que Platão surgiu com o pensamento de que aquele movimento estranho realizado pelos planetas era uma trajetória interpretada falsamente pelos nossos sentidos.

Dentro dessa visão dos movimentos irregulares dos astros, surge a concepção cosmológica de Platão. Para ele, o Universo, inicialmente, era uma matéria criada de uma substância amorfa, e a forma dessa substância era dada por um “artesão”, uma divindade chamada de Demiurgo.

Demiurgo era o deus de Platão, e esse deus era a maior perfeição de todo o Universo, e como foi esse artesão que criou e deu forma ao Universo, era compreensível que o Universo tivesse as impressões e características desse deus perfeito. A perfeição platônica consistia em três características básicas: tinha que ser bom, belo e descrever movimentos circulares e uniformes no céu.

Ainda sobre a cosmovisão platônica, para esse filósofo, a Terra estava parada no centro do Universo enquanto que os outros planetas orbitavam ao redor do nosso planeta.
Para explicar a imperfeição dos movimentos planetários, Platão desenvolveu a ideia de composição de movimentos, em que dizia que as laçadas dos planetas eram múltiplos movimentos circulares uniformes atuando sobre um corpo, assim, o movimento continuava sendo perfeito, assim como o seu movimento, mesmo que para os nosso sentidos o movimento parecesse irregular e estranho.

Resumidamente, Platão busca explicar as irregularidades do mundo com base em sua alegoria, e prova que, apenas por meio da matemática, que é possível conhecer a verdadeira essência do Universo. A criação de um deus artesão bom, belo e perfeito, condiz com o conceito do mundo das ideias do Mito da Caverna. Platão conecta o mundo racional com o mundo da espiritualidade humana, tenta preservar a ideia de que dentro de toda espiritualidade há certa racionalidade, facilmente interpretada pela matemática e pela geometria.

O deus artesão que deu forma ao universo, nos deu forma também, porque somos parte do Universo; dessa maneira, Demiurgo habita em nossa matéria, e é através da meditação da alma e da interpretação matemática que podemos encontrar esse Demiurgo dentro de nós mesmos, ou seja, só assim que chegamos ao mundo das ideias, segundo Platão.
Boa filosofia a todos!

Imagem de William Blake em que é retratado o momento da criação do Universo por Demiurgo.

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