domingo, 3 de maio de 2009

A dança do Universo


“Tudo é numero”. Essa afirmação pode ser bastante conhecida entre as pessoas hoje em dia, entretanto, a essência de seu significado é camuflada pelo tempo. O dono dessa frase foi Pitágoras, e foi do seu nome que surgiram os pitagóricos, um grupo de filósofos contemporâneos aos pré-socráticos.

Os pitagóricos eram pertencentes de uma Escola Religiosa, e defendiam uma ideia parecida com a ideia dos atomistas e dos próprios pré-socráticos, a concepção de uma matéria única e indivisível de que todas as coisas eram formadas. A Arché dos pitagóricos, por assim dizer, era a matemática, eram os números os formadores de toda matéria. Parece estranho esse conceito, mas eles acreditavam que o princípio de todas as coisas não era material, mas algo que compunha todo o material existente no mundo. Esses filósofos encontraram na abstração, isto é, na matemática, uma forma de explicar a origem de tudo e de todos.

É uma teoria bastante elegante que tinha como base principal os números simbólicos. Cada número era representado por um arranjo geométrico que, para eles, compunham imagens poderosas, sendo o número dez o mais poderoso e perfeito de todos os números. O número dez era o símbolo da estabilidade, e a soma dos arranjos geométricos que compunham a figura do dez, era chamado de Tectractys e simbolizava a perfeição do mundo.

A visão pitagórica do Universo imprime certas características dos números simbólicos. Para esses pensadores, a estruturação do sistema solar se dava por dez elementos celestes (a Terra, a Anti-Terra, o fogo central, Lua, Mercúrio, Vênus, Sol, Marte, Júpiter, Saturno e a esfera das estrelas fixas), esse conjuntos de astros formava o Sistema Pirocêntrico, por conter um fogo central onde todos os outros astros orbitavam.

Dentro dessa cosmovisão é possível perceber uma certa “divinização” que os pitagóricos tinham com o fogo. Atribuíam ao fogo o caráter de transformação que regia todo o mundo, e era por esse motivo que o fogo ocupava a posição central do sistema solar e, como o centro era um ponto de equilíbrio geométrico, não haveria melhor lugar para este ocupar. O fogo não era visto da Terra, porque um outro astro, a Anti-Terra, tinha sua órbita igual a da Terra e, consequentemente, esta ocultava o fogo da visão de qualquer um que estivesse na Terra.

A base dessas teorias descartavam a experiência e partiam para a abstração geométrica e matemática pura; dessa maneira, desenvolveram uma nova forma de conhecimento, em que o pensamento racional por meio da abstração resolveria todas os problemas do mundo.

Um outro conceito bem conhecido entre nos é o da música das esferas. Os pitagóricos afirmavam que o movimento dos astros no Universo produzia um som, chamado som das esferas, que era inaudível para qualquer ser humano por ser constante desde o nascimento do primeiro homem na Terra. Esse som mostra uma relação, novamente, com a matemática, a de harmonização.
Segundo eles, o som formava a harmonia sonora de cada esfera no universo, e essa harmonia condiz, perfeitamente, com a ideia de harmonia e simetria, tal como a beleza, das operações matemáticas.

Por fim, um último esclarecimento muito importante. O tão famoso Teorema de Pitágoras, na verdade não é de Pitágoras. O teorema matemático, como é conhecido hoje, provem dos egípcios, que para dividir corretamente as áreas agriculturáveis na região do Nilo, utilizavam uma fórmula matemática, que mais tarde seria apropriada por Pitágoras, em uma de suas viagens pelo Egito, levando o nome de Teorema de Pitágoras.

Ideias tão antigas como as dos gregos, são vistas, atualmente, em discussões e em congressos ao redor do mundo. A concepção de um princípio formador de tudo, sendo ele a matemática, continua sendo um pensamento bastante difundido entre alguns intelectuais. Partindo do conceito de que a matemática, como quase tudo na Terra, foi formada pelo homem, seria bastante limitado pensar que a matemática, que foi, também, manipulada pelo ser humano e facilmente compreensível pelo mesmo, fosse a grande formadora de tudo o que se há conhecimento no mundo.
Mesmo que o tempo tenha passado, e as ideias teham sido evoluídas, é bastante encantador pensar em números geometricamente harmônicos como sendo a matriz de todos nós e, que dentro de todo esse equilíbrio, ainda ouvimos um som inaudível do movimento da Terra e de todas as estrelas e planetas do nosso céu.
Boa filosofia a todos!


O titulo se refere ao livro do Marcelo Gleiser “ A Dança do Universo – dos Mitos de Criação ao Big-Bang” (São Paulo: Companhia das Letras, 1997)

Imagem retirada do blog: http://laescueladeateanas.wordpress.com/2008/11/14/los-pitagoricos-segun-aristoteles

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