sábado, 19 de setembro de 2009

Relatividade aplicada à vida

- Bruna, presta atenção: imagine um referencial parado numa plataforma de uma estação de trem, certo?
- Certo...
- Agora imagina que você está no ultimo vagão, sim? Pensando do ponto de vista desse referencial fixo na plataforma, quando o primeiro vagão chegar na plataforma e passar por esse referencial, o último vagão ainda não terá passado pelo mesmo referencial. Se um relógio fosse colocado nesse referencial você não acha que o tempo para o primeiro vagão chegaria antes que o tempo para o último vagão?
- Ah, é...
- Assim ó, os segundos iriam acontecer antes para o primeiro vagão, e enquanto o tempo estivesse passando para o primeiro vagão, ele não teria chegado no último, então o tempo no último vagão estaria atrasado em relação ao primeiro.
- É acho que faz sentido.
- Adorei essa ideia, mas acho que estou com sono.

O metro estava chegando na plataforma, eram sete horas da manhã de um sábado com temores de temporal.

- Olha isso, não é esquisito temos uma boca, dois olhos, um nariz, duas pernas e dois braços como todo mundo dentro deste metro? – disse Bruna pensativa e com os olhos sutilmente assustados – Não é estranho, e mesmo sendo tudo igual a gente é tão diferente um dos outros não é?
- É esquisito, dá uma sensação estranha de eu olhar para todos em volta e saber que sou dessa espécie esquisita. – pensei eu.
- Nossa eu sou um humano!

O sol, por ora, aparecia no céu de várias cores de nuvens de chuva, enquanto andávamos pelo centro de São Paulo. As lojas estavam abrindo e alguns moradores de rua passavam nos espiando desconfiados.

- Sabe, quando olho todos esses prédios enormes, todas as construções, o trânsito, os semáforos, as pessoas andando e tudo o mais, não tem como não pensar: o que é isso tudo? – refletia eu - imagina que isso tudo só faz sentido para nós que estamos vivendo aqui dentro, e olha como somos organizados, sabemos que temos que esperar o semáforo de pedestres ficar verde para sabermos que temos que atravessar a rua. Mas quem foi que disse que tinha que ser o verde, porque não o roxo? Meu Deus quanta coisa esquisita.
- É... A gente só continua fazendo as coisas porque estamos acostumados a tudo isso e achamos que é tudo simples, mas não é não, olha tudo o que criamos, assim, de uma hora para outra.
- Bruna, presta atenção, a gente está dentro de um planetinha e, ai criamos tudo isso aqui, mas poderia ser diferente? Queria poder ver o diferente.

Andamos mais um pouco, divagando enquanto a cidade acordava.

- Estava pensando essa semana, estou nessa minha vida, todas as coisas que aconteceram foram para que eu estivesse vivendo como estou vivendo hoje, mas será que eu não poderia ter várias vidas paralelas, várias outras situações minhas acontecendo que não estão acontecendo agora onde estou? – repliquei novamente. – assim, se algo não aconteceu aqui onde estou, será que em algum outro lugar a outra coisa que não aconteceu poderia estar acontecendo agora? Aí pensa, poderíamos ter diferentes tipos de vida e de felicidade. Se algo que não aconteceu aqui, agora, pudesse ou estivesse acontecendo em algum outro lugar comigo, eu poderia estar feliz em algum lugar daquela maneira que não a de agora. Faz sentido?
- É faz sim! Foi disso que falei um dia, mas de outro jeito.
- Coisa chata a gente né, por que o homem tem que ficar pensando nessas coisas e nunca ter resposta de nada. O que eu estou fazendo aqui? Quero saber droga! Não posso saber não?

Olhei para Bruna e ela fez uma expressão de questionamento.

- É acho que não posso saber das coisas não é, ninguém sabe.
- Estou com fome e sede, mas comprei uma água com gosto de plástico.
- Imagina... – eu disse - não, não, deixa. Parei de ficar pensando assim, tem hora que cansa ficar pensando no mecanismo de tudo, mas é legal!

Terminamos de subir a rua, e o dourado do sol cobria finamente o concreto dos edifícios e casas. Andávamos, caminhávamos e respirávamos, como todos os outros. A continuidade da vida era tão simples e tocante que era possível escutar musica de todas as existências acontecendo ao mesmo tempo. Todos iam e vinham, tínhamos pressa de chegar em nossos destinos que, no fim, não nos levaria a lugar algum ou, talvez, a todos os lugares.

“(...) Daqui desse momento, do meu olhar pra fora, o mundo é só miragem. A sombra do futuro, a sobra do passado, assombram a paisagem.
(...)
A lógica do vento, o caos do pensamento, a paz na solidão. A órbita do tempo, a pausa do retrato, a voz da intuição. A curva do universo, a fórmula do acaso, o alcance da promessa. O salto do desejo, o agora e o infinito. Só o que me interessa "


Lenine – É o que me interessa

Imagem retirada do site: http://reciclocidade.files.wordpress.com/2007/10/avenida-paulista.jpg


Boa filosofia a todos!

* crédito do título para Bruna Carolina Bispo.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Sobre técnicas e homens

O panorama geral da educação que vemos hoje no Brasil está, muito fortemente arraigada aos processos históricos decorrentes da formação educacional no território nacional. Quando os primeiros catequizadores, provenientes da Europa, ancoraram nos portos brasileiros a fim de catequizar as tribos indígenas, estes não levaram em consideração as diferenças culturais entre eles, os europeus e os índios; e assim, trataram de ensinar aos povos nativos a língua européia para que, posteriormente, fossem lhes ensinadas as doutrinas do Catolicismo.

Com o passar do tempo, os índios perderam sua identidade cultural e, até mesmo, religiosa, e foram submetidos aos princípios e ideologias decorrentes de pensamentos europeus. Começava aí, a formação da educação brasileira que, com o passar dos séculos, foi se adaptando e se modificando conforme as necessidades dos alunos. No início, as escolas eram, apenas, para alunos pertencentes à classe dominante da sociedade, ou seja, pertencente às elites. A partir dessa separação de classes sociais, já se criava uma idealização e uma maior importância para os “bem nascidos” da sociedade, aumentando, assim, as diferenças sociais tão marcantes em nossa sociedade, vistas nos dias de hoje.

Mudanças políticas e estruturais na sociedade foram geradas, universidades criadas, leis de fundamento educacional foram aprovadas, escolas gratuitas foram institucionalizadas e, órgãos, ministérios e estatutos foram feitos para subsidiar a educação no Brasil.

Por mais que projetos de desenvolvimentos educacionais fossem feitos para criar melhorias no alcance da educação à todas as comunidades e, que programas de planejamento na abordagem pedagógica que os professores tinham com os seu alunos fossem feitas, a escola tradicional ainda era um fator importante no ensino.

Os modelos da escola tradicional principiam a submissão do aluno ao mestre, que por ora, é visto como a pessoa dotada de poder intelectual sobre os estudantes. O próprio ambiente da sala de aula nos remete a essa imagem: os estudantes enfileirados de forma regular pela sala, o professor à frente dos mesmos discursando sobre os conteúdos necessários para a formação de um cidadão.

Entretanto, a escola tradicional não vê diferenças singulares que uma pessoa, no caso, que um aluno pode ter do outro. Tratando-se de seres humanos o ambiente escolar não deve ser algo mecânico e completamente técnico, o homem é volúvel e um não é igual ao outro, todos nós temos nossas singularidades, defeitos e qualidades.

Tais diferenças próprias do caráter humano eram evidenciadas num ambiente educacional e vivenciadas de forma a pronunciar o preconceito e a discriminação de uma pessoa com a outra.

Quando um aluno possui maneiras diferentes de aprendizado que não se assemelham ao restante, o grupo percebe essa diferença e tem dois caminhos a seguir: ou o grupo discrimina a pessoa e a exclui do mesmo, ou o grupo inclui essa pessoa aceitando as suas diferenças, compartilhando experiências mutuamente.

O que se vê na esfera educacional brasileira é, justamente, a primeira opção. A forma com que a educação foi estruturada ao longo do processo histórico evidencia o preconceito e a marginalização dos que são denominados “diferentes” do restante da comunidade. Felizmente, grupos de intelectuais e a própria sociedade, vem percebendo que esse preconceito é algo maléfico e atrasado para o próprio desenvolvimento de todas as partes de uma sociedade.

Projetos de inclusão educacional estão sendo criados e implantados a fim de garantir uma melhor qualidade de vida e de aprendizado para os alunos. Quando a criança e, até mesmo, o adolescente, tem contato com outras pessoas, há um desenvolvimento do próprio caráter humano de respeito e de humildade ao próximo. A abordagem natural e inequívoca de perceber que as diferenças entre os homens é algo completamente natural, abre espaço para que diferentes culturas se conheçam e, assim, possam mutuamente transferir e compartilhar visões diferentes de mundo, além de costumes, religião, crenças e maneiras diversas de aprendizado.

O constante contado de um grupo com outros, promove, quase que obrigatoriamente, a noção de nação entre os indivíduos, de cooperação e de cidadania e, também, de democracia. As interfaces das diferenças são simultaneamente insignificantes quando um grupo aprende a aceitar as peculiaridades do outro, e dessa forma, permite que uma pessoa possa aprender com a outra.

Programas de inclusão educacional não dependem unicamente do grupo abordado em questão, mas dos próprios educadores e do próprio governo em ser receptivo ao que tange à estruturação do ambiente escolar.

Os educadores precisam desenvolver técnicas adequadas para lidar com diversos grupos de alunos, assim como, saber como interagir com alunos com algum tipo de deficiência física e de aprendizagem para que, a pessoa em questão não se sinta como uma peça fora do próprio sistema. Os mestres precisam desenvolver ideias de humildade, solidariedade e respeito mútuo entre seus alunos.

O governo deve planejar formas de incorporar pessoas marginalizadas pela situação social dentro da esfera educacional e, promover reformas estruturais no plano de educação e na formação e capacitação de seus professores.

Infelizmente, projetos assim não são fáceis de serem manipulados quando o próprio Brasil já possui uma segregação social herdada de séculos passados. A própria história brasileira é cheia de diferenças entre classes sociais e de preconceito com as diferenças que existem entre os seres humanos.

A inclusão social é algo importante para o desenvolvimento de uma nação e faz com que, fatores como o próprio preconceito, a violência e a marginalização fiquem sem significado no que tange a complementaridade que uma sociedade precisa ter com seus indivíduos e culturas tão diversas.



Imagem retirada do site: http://blog.cancaonova.com/pensandobem/files/2007/11/pai-e-filho1.JPG


Texto por Natalia Iorio Garcia