terça-feira, 1 de setembro de 2009

Sobre técnicas e homens

O panorama geral da educação que vemos hoje no Brasil está, muito fortemente arraigada aos processos históricos decorrentes da formação educacional no território nacional. Quando os primeiros catequizadores, provenientes da Europa, ancoraram nos portos brasileiros a fim de catequizar as tribos indígenas, estes não levaram em consideração as diferenças culturais entre eles, os europeus e os índios; e assim, trataram de ensinar aos povos nativos a língua européia para que, posteriormente, fossem lhes ensinadas as doutrinas do Catolicismo.

Com o passar do tempo, os índios perderam sua identidade cultural e, até mesmo, religiosa, e foram submetidos aos princípios e ideologias decorrentes de pensamentos europeus. Começava aí, a formação da educação brasileira que, com o passar dos séculos, foi se adaptando e se modificando conforme as necessidades dos alunos. No início, as escolas eram, apenas, para alunos pertencentes à classe dominante da sociedade, ou seja, pertencente às elites. A partir dessa separação de classes sociais, já se criava uma idealização e uma maior importância para os “bem nascidos” da sociedade, aumentando, assim, as diferenças sociais tão marcantes em nossa sociedade, vistas nos dias de hoje.

Mudanças políticas e estruturais na sociedade foram geradas, universidades criadas, leis de fundamento educacional foram aprovadas, escolas gratuitas foram institucionalizadas e, órgãos, ministérios e estatutos foram feitos para subsidiar a educação no Brasil.

Por mais que projetos de desenvolvimentos educacionais fossem feitos para criar melhorias no alcance da educação à todas as comunidades e, que programas de planejamento na abordagem pedagógica que os professores tinham com os seu alunos fossem feitas, a escola tradicional ainda era um fator importante no ensino.

Os modelos da escola tradicional principiam a submissão do aluno ao mestre, que por ora, é visto como a pessoa dotada de poder intelectual sobre os estudantes. O próprio ambiente da sala de aula nos remete a essa imagem: os estudantes enfileirados de forma regular pela sala, o professor à frente dos mesmos discursando sobre os conteúdos necessários para a formação de um cidadão.

Entretanto, a escola tradicional não vê diferenças singulares que uma pessoa, no caso, que um aluno pode ter do outro. Tratando-se de seres humanos o ambiente escolar não deve ser algo mecânico e completamente técnico, o homem é volúvel e um não é igual ao outro, todos nós temos nossas singularidades, defeitos e qualidades.

Tais diferenças próprias do caráter humano eram evidenciadas num ambiente educacional e vivenciadas de forma a pronunciar o preconceito e a discriminação de uma pessoa com a outra.

Quando um aluno possui maneiras diferentes de aprendizado que não se assemelham ao restante, o grupo percebe essa diferença e tem dois caminhos a seguir: ou o grupo discrimina a pessoa e a exclui do mesmo, ou o grupo inclui essa pessoa aceitando as suas diferenças, compartilhando experiências mutuamente.

O que se vê na esfera educacional brasileira é, justamente, a primeira opção. A forma com que a educação foi estruturada ao longo do processo histórico evidencia o preconceito e a marginalização dos que são denominados “diferentes” do restante da comunidade. Felizmente, grupos de intelectuais e a própria sociedade, vem percebendo que esse preconceito é algo maléfico e atrasado para o próprio desenvolvimento de todas as partes de uma sociedade.

Projetos de inclusão educacional estão sendo criados e implantados a fim de garantir uma melhor qualidade de vida e de aprendizado para os alunos. Quando a criança e, até mesmo, o adolescente, tem contato com outras pessoas, há um desenvolvimento do próprio caráter humano de respeito e de humildade ao próximo. A abordagem natural e inequívoca de perceber que as diferenças entre os homens é algo completamente natural, abre espaço para que diferentes culturas se conheçam e, assim, possam mutuamente transferir e compartilhar visões diferentes de mundo, além de costumes, religião, crenças e maneiras diversas de aprendizado.

O constante contado de um grupo com outros, promove, quase que obrigatoriamente, a noção de nação entre os indivíduos, de cooperação e de cidadania e, também, de democracia. As interfaces das diferenças são simultaneamente insignificantes quando um grupo aprende a aceitar as peculiaridades do outro, e dessa forma, permite que uma pessoa possa aprender com a outra.

Programas de inclusão educacional não dependem unicamente do grupo abordado em questão, mas dos próprios educadores e do próprio governo em ser receptivo ao que tange à estruturação do ambiente escolar.

Os educadores precisam desenvolver técnicas adequadas para lidar com diversos grupos de alunos, assim como, saber como interagir com alunos com algum tipo de deficiência física e de aprendizagem para que, a pessoa em questão não se sinta como uma peça fora do próprio sistema. Os mestres precisam desenvolver ideias de humildade, solidariedade e respeito mútuo entre seus alunos.

O governo deve planejar formas de incorporar pessoas marginalizadas pela situação social dentro da esfera educacional e, promover reformas estruturais no plano de educação e na formação e capacitação de seus professores.

Infelizmente, projetos assim não são fáceis de serem manipulados quando o próprio Brasil já possui uma segregação social herdada de séculos passados. A própria história brasileira é cheia de diferenças entre classes sociais e de preconceito com as diferenças que existem entre os seres humanos.

A inclusão social é algo importante para o desenvolvimento de uma nação e faz com que, fatores como o próprio preconceito, a violência e a marginalização fiquem sem significado no que tange a complementaridade que uma sociedade precisa ter com seus indivíduos e culturas tão diversas.



Imagem retirada do site: http://blog.cancaonova.com/pensandobem/files/2007/11/pai-e-filho1.JPG


Texto por Natalia Iorio Garcia

Um comentário:

  1. Maravilhoso.
    Como sempre, excelentes argumentos.

    Parabéns, você merece de verdade.

    Adorei o texto.

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