segunda-feira, 30 de março de 2009

Na Casa da Sabedoria

Quando pensamos em disseminação científica e na própria ciência, nos transportamos para um tempo longe daqui, onde sempre associamos o conhecimento dos filósofos gregos como o grande passo para o desenvolvimento da ciência ocidental. Entretanto, antes da grande parte dos trabalhos dos gregos serem desenvolvidos, o povo islâmico já há muito trabalhavam nas questões filosóficas e científicas da época.

As ideias de Aristóteles e de todos os outros grandes filósofos da Grécia, só chegaram até o mundo ocidental graças aos árabes. Os islâmicos tiveram contato com manuscritos desses filósofos e os traduziram para o árabe; e foi a partir da exportação de seda e de especiarias do oriente para o ocidente, que esses manuscritos foram traduzidos para o latim e conhecido por toda a comunidade científica da Europa.
Foi nessa época que toda a sociedade europeia se libertava de conceitos teocêntricos da Idade Média e imergia no Renascimento, onde a liberdade e o racionalismo eram a base do desenvolvimento moral e tecnológico de toda a sociedade.

Não se tem conhecimento ainda da totalidade da contribuição islâmica para o ocidente, porque muitos manuscritos e livros escritos em árabe não foram traduzidos e analisados. Porém, muitos outros trabalhos foram conhecidos a partir de referências encontradas em outras obras escritas por europeus.

O tão conhecido Triângulo de Pascal, formulado por Blaise Pascal, na verdade teve sua origem com os chineses e com os árabes; assim como a obra mais conhecida de Ptolomeu, Almagesto, antes sob o nome de Al Majisti em árabe, e mais tarde pelos gregos pelo nome de Hè Magiste Syntaxis, teve forte influências do mundo árabe e clássico no século IX.

O legado árabe vai mais longe, e bases da Matemática e da Astronomia tiveram seu fundamento formulado naquela época tão remota do nosso pensamento. A dedicação à Aritmética e aos símbolos que desenvolveram para representarem os números e o conceito de vazio e do zero, nasceram na comunidade hindu e árabe, e até os dias de hoje são usadas. O aperfeiçoamento da Álgebra, também teve seu destaque, na formulação de equações e do próprio cálculo contemporâneo. Na Trigonometria contribuíram nas formulações das funções seno e co-seno, e ajudaram, também, os portugueses na navegação náutica com o conhecimento das coordenadas de orientação e das posições astronômicas do Sol. Na própria Astronomia, além da revisão dos trabalhos de Ptolomeu sobre os movimentos irregulares dos planetas na esfera celeste, os árabes possibilitaram uma possível influência para o desenvolvimento dos trabalhos de Copérnico.
Aldebarã, Altair, Deneb, Vega e Rigel são nomes das estrelas mais brilhantes vistas no céu que receberam, originalmente, seus nomes em árabe e que são mantidas até os dias de hoje, assim como as palavras zênite (ponto em que a vertical de um lugar vai encontrar a esfera celeste acima do horizonte) e nadir (ponto do céu diretamente oposto ao zênite) tem sua origem na língua árabe.

Mesmo que alguns historiadores denominem os árabes apenas como meros escribas, é incontestável a sua contribuição para a ciência e para a filosofia, assim como para o desenvolvimento do conhecimento no mundo ocidental. Por vezes pensamos que a origem de todo o nosso saber provém unicamente do ocidente, contudo, nos esquecemos da origem verdadeira das informações e nos contentamos com discursos proferidos por interesses políticos e religiosos de uma época, que vão contaminar todos os futuros séculos.
São nomes, quase que impronunciáveis como Al-Khuarizmi e Abu Ali Al Hussain Ibn Abdallah Ibn Sina, que com método e aprofundamento do saber trouxeram para o nosso mundo atual grande parte do nosso pensamento contemporâneo.

Boa filosofia a todos!


*o título se refere ao momento de maior fermento intelectual da civilização islâmica. Fundada em Bagdá por Mamun, a Casa da Sabedoria reuniu intelectuais e filósofos de toda a região para a tradução de manuscritos gregos e para o aprofundamento de ciências como a astronomia, física e medicina.



Com base no texto: “da tradução à criação da civilização árabe” de Nuno Crato
Imagem retirada do portal:http://www.observatoriodoalgarve.com/cna/noticias_ver.asp?noticia=23630

Um comentário:

  1. Olá meu amor. Com toda a certeza o melhor texto até o momento. Vale a pena investir nessa linha.

    Estou contigo.

    Parabéns.

    Beijos

    ResponderExcluir